Eliane Caffé não virá a Belém para a abertura da Mostra Curta Pará Cine Brasil, que acontecerá a partir das 19h30, desta quarta-feira, 21, no Cinema Olympia (veja a programação no blog do evento, em www.curtapara.
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Em São Paulo, com a agenda tomada, ela reservou um tempo para responder a entrevista enviada pelo HolofoteVirtual.
“O Sol do Meio Dia” (2006) é seu terceiro longa-metragem. O primeiro, “Kenoma” (1998), traz em sua trama o andarilho Jonas, que chega a um pequeno povoado e ali permanece, atraído por uma jovem de nome Tali. Habitada por camponeses, garimpeiros e pequenos comerciantes, a comunidade é um daqueles vilarejos que ainda transpiram um modo de vida primitivo.
“Os Narradores de Javé” veio em seguida (2004), projetando a cineasta nacional e internacionalmente. No filme a diretora homenageia contadores de histórias e coloca em pauta a tradição oral.
Ambos foram exibidos em Belém. Em 1998 mesmo, Kenoma foi visto no Teatro Margarida Schivasappa, um dos espaços que sediava o Festival Internacional de Cinema da Amazônia, coordenado por Flávia Alfinito (diretora dos curtas “Chuvas e Trovoadas” e “Carlos Gomes”).
“Os Narradores de Javé” ganhou exibição no cine Líbero Luxardo do Centur, com a presença de Eliane, que estava na cidade já em função das filmagens de “O Sol do Meio Dia”. Buscava parcerias e locações.
Em seu terceiro longa, a diretora conta a história de três personagens que partem do interior do Brasil rumo a Belém, numa viagem de auto-
conhecimento. Do universo fabuloso de seus dois primeiros filmes, a cineasta agora investe nas atuações profundas e diz que este é um filme essencialmente de atores, personagens.
Além de Luiz Carlos Vasconcelos (na foto abaixo, com a rabeca), tem no elenco principal Chico Diaz (foto acima) , Cláudia Assunção (abaixo, com Eliane Caffé) e Ary Fontoura. Na equipe, além de profissionais da área técnica, quase metade do elenco é de atores paraenses, além da figuração que é toda local.
No enredo de “O Sol do Meio Dia”, Artur (Luiz Carlos Vasconcelos) comete um crime passional e em seguida inicia uma viagem até Belém, sendo orientado por vozes misteriosas. Por isso talvez, inicialmente o filme tivesse se chamado “Andar às Vozes”.
A história começa a tomar novos rumos quando Artur encontra Matuim (Chico Diaz) e Ciara (Cláudia Assunção), duas pessoas que, por razões diversas, rompem com seu modo de vida em suas cidades de origem. A trajetória dos três se desenrola num triângulo amoroso que tem como cenário a cidade grande de Belém.
O filme demorou pra ficar pronto. Do início da produção até agora, levou quase quatro anos para estrear. No Pará, foram quatro meses de filmagens.
Já premiada em festivais internacionais como os da Suíça, Bélgica, Canadá, França e Barcelona, Eliane diz que “O Sol do meio Dia” tem uma carreira projetada. “Temos alguns convites para seleção de Festivais Internacionais e estamos torcendo, para o filme trilhar um pedacinho do mundo lá fora”.
Nesta entrevista, a diretora nos conta como é filmar um longa metragem na Amazônia, das dificuldades que surgiram, de diversas naturezas, incluindo o desaparecimento de uma lata de filme que já estava a caminho de São Paulo.
Mas Eliane se diz feliz com o resultado, elogia o elenco paraense e diz ter ficado surpreendida com a cultura local que, em sua opinião, ainda mantém vivos seus traços mais tradicionais.
ENTREVISTA
HolofoteVirtual: Parabéns pela premiação no Festival do Rio de Janeiro. Como foi a recepção do público carioca ao filme, considerando sua temática?
Eliane Caffé: Tivemos uma boa recepção! Uma platéia calorosa e os críticos dos principais jornais ("Estado de S.P."; "O Globo" etc) falaram bem do filme. O prêmio de melhor ator dividido entre os dois protagonistas Luis Carlos Vasconcelos e Chico Diaz foi a grande recompensa da pré-estréia no Rio.
HolofoteVirtual: A produção do filme começou há anos atrás e só agora estreou. Você encontrou muitas dificuldades para filmar aqui?
Eliane Caffé: O fato do filme não ter um apelo comercial dificultou a captação de recursos para sua realização. Este fator foi o único determinante para a demora tanto da produção como da finalização.
HolofoteVirtual: O projeto se chamava “Andar às Vozes”, nome que eu particularmente achava poético e muito simbólico à trama. Por que mudou para “O Sol do Meio Dia”?
Eliane Caffé: Pelo fato do nome não ajudar na comercialização do filme. Se você prestar atenção, "ANDAR ÀS VOZES" funciona bem na escrita porque você vê a crase. Mas, ao falarmos, a crase pode desaparecer e o sentido poético se perde também.
HolofoteVirtual: Você disse no Rio que o filme teve muitos problemas de produção e que a equipe não podia saber. Quais foram? Um deles teria sido o desaparecimento de uma lata de filme que seguia já rodado, em um caminhão, para São Paulo?
Eliane Caffé: O roubo da lata de negativo referente a primeira semana de filmagem foi um golpe duro, porém ao refazermos estas seqüências conseguimos melhorar muitas coisas. A grande dificuldade estrutural que encontramos foi a falta de dinheiro para concluir o filme. Uma série de "coincidências" neste plano atrapalhou muito a administração financeira. E este tipo de problema numa produção como a nossa, dispersa em vários pontos da região, trouxe um peso enorme como uma bola de neve, um problema provocando e se somando a outro. A garra da equipe e também a ousadia da produtora Van Fresnot foram determinantes para não pararmos o filme.
HolofoteVirtual: Você utiliza em seus filmes alguns elementos do universo fantástico, como em “Kenoma” e “Os Narradores de Javé”. O que prevalece neste novo trabalho?
Eliane Caffé: Ao contrário dos outros dois filmes, neste o que prevalece é a trama do universo intimista e humano dos personagens. Por isso, diria que este é um filme sobretudo de atores .
Holofote
Virtual:
Na figuração você tem os brincantes do Boi de Máscaras de São Caetano de Odivelas, o Boi Faceiro, manifestação marcante da cultura paraense. O que ficou em você dessa vivência com as coisas do Pará?
Eliane Caffé: O fato de filmar longe de casa traz a melhor oportunidade de adquirir conhecimento e vivências de uma forma intensa e no corpo a corpo. Muito do que vi em Belém não conhecia a não ser de formas mais estereotipadas que chegam através da mídia dominante. O que testemunhei no curto período foi uma cultura que se manifesta ainda de modo mais autêntico (menos misturada em certo sentido) do que em outras partes do nordeste que conheci. Este fato garante um frescor e força bastante acentuados nas diferentes manifestações. A música, principalmente (quase sempre acompanhada dos rituais mais diversos), parece ser uma das artes mais expressivas e fortes daí.
HolofoteVirtual: Como foi trabalhar com o elenco paraense?
Eliane Caffé: Foi um elenco que garantiu a autenticidade e vigor para a atmosfera do filme como um todo. O elenco vindo de outras regiões como São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Pernambuco, bebeu muito da fonte dos atores locais que traziam no suor o que havia de melhor na cultura regional.
HolofoteVirtual: Como está a carreira de “O Sol do meio Dia” e quais seus novos projetos?
Eliane Caffé: Estamos só iniciando a carreira com "O Sol do Meio Dia". Temos alguns convites para seleção de Festivais Internacionais e estamos torcendo, para o filme trilhar um pedacinho do mundo lá fora. Novos projetos estão germinando, aliás, é a única maneira de desapegar-se de um para criar sentido em outro e seguir vivendo.
Fonte:http://holofotevirtual.blogspot.com
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