Por Daniel Russell Ribas
06/10/2009
O sol do meio dia é maravilhoso. Talvez o melhor filme da diretora Eliane Caffé. Com certeza, um dos grandes lançamentos brasileiros de 2009. A exemplo de suas obras anteriores, a diretora é responsável pelo roteiro ao lado do dramaturgo Luiz Alberto de Abreu. O texto é usado como ponto de partida para uma investigação de personagens, brasilidade e o uso do ambiente como parte essencial para o andamento do filme e os desempenhos dos atores.
A premissa envolve Arthur (Luiz Carlos Vasconcelos). Após ser libertado, ele decide ir para Belém. Ele pede para o barqueiro Matuim (Chico Diaz) pra levá-lo em troca de trabalho. No caminho, cruzam com Ciara (Cláudia Assunção). Mais do que trama, é a interação entre os homens e, posteriormente, com a mulher que servirá como elo condutor do filme.
Como em seus filmes anteriores, a diretora mostra o interior do Brasil (neste caso, a região Norte) com bastante propriedade e beleza. Mesmo as cenas urbanas, como em Belém, são filmadas de forma quase lírica, contemplando a movimentação dentro do ambiente. A fotografia é composta dentro dessa junção psicológica entre o lugar e o personagem. O personagem de Vasconcelos permanece em locais escuros ou com sombra, enquanto Diaz está sempre iluminado, em conjunção com os excessos e animação de Matuim.
Os atores estão perfeitos. Vasconcelos passa com o olhar o desespero de Arthur. Seu personagem é um sujeito atormentado, horrorizado com a violência que é capaz e em busca de um recomeço. Ainda assim, mostra ternura e é sincero em suas boas intenções. Com uma atuação minimalista, Vasconcelos transmite com perfeição a complexidade do introspectivo Arthur. Assunção, como outra pessoa que resolve recomeçar, é doce e fragilizada na medida que a personagem exige.
Uma surpresa é o desempenho de Chico Diaz. Ator veterano e mais do que competente, ficou marcado por personagens sérios e intensos. Aqui, tem a chance de mostrar que é também ótimo em comédia. Alvo frequente de piadas e abusos por quase todos os personagens que cruzam seu caminho, Diaz compõe seu anti-herói como uma criança em corpo de adulto. É a oportunidade de mostrar um excelente timing cômico e fazer uma ótima dupla com Vasconcelos. Como os grandes clowns, ele é hilário e comovente na mesma medida. Seu Matuim é uma figura tragicômica: patético, mas sem a menor ideia disso até o final. Uma surpresa de um ator que não surpreende com a realização de mais um trabalho de qualidade inquestionável.
O sol do meio dia comove e entretém. Muito bom.
Premiere Brasil
O SOL DO MEIO DIA
Brasil, 2007. 106 min.
Direção: Eliane Caffé
Elenco: Luiz Carlos Vasconcelos, Chico Diaz, Cláudia Assunção, Ary Fontoura
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